"Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, de onde nasceu. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento e volta fazendo os seus circuitos"
Eclasiastes 1:4-6
Rodolfo M. Martins
Ana Beatriz Obrakat Salgado
Cássio Godinho Salgado
General David "Canabarro"
Silvério José Martins (1793-1853) (irmão mais velho de David José Martins, conhecido na história riograndense como General David “Canabarro” [1796-1869]) estabeleceu casamento com Clemência Joaquina Porciúncula e passou a residir na estância de sua propriedade denominada “São João” (hoje conhecida como “São João Velho” ou “Velho São João”), no município de Sant’Anna do Livramento, localidade do Sarandi, na margem norte do rio Quaraí, terras adquiridas de um casal português que havia recebido em sesmaria (lindeiras ao campo de David Canabarro, sesmaria de São Gregório). Desse casamento entre Silvério e Clemência nasceu em 1840 um único filho, a quem Silvério deu o nome de David José Martins, em homenagem a seu irmão David “Canabarro” que apadrinhou o sobrinho no batismo.
Conta-se que, devido a tradição de caber ao filho mais velho o dever de ir lutar nas guerras, caberia a Silvério na campanha Cisplatina abandonar o trabalho no campo para ir à batalha. No entanto, pelo fato do seu irmão mais novo David José Martins (posteriormente apelidado “Canabarro”) não ser muito afeiçoado nem muito entendido das lides de campo, propôs ir no lugar do irmão primogênito, ideia que após grande relutância foi aceita por Silvério, sob pena dos negócios da família esmorecerem. Daí a homenagem feita por Silvério a seu irmão militar, dando ao filho o mesmo nome do tio e padrinho: David José Martins, o qual para ser diferenciado do seu tio, ganhou apelido de “Vivi” (posteriormente, um dos seus bisnetos, David Fontoura Martins, ganharia o mesmo apelido).
O menino David José Martins (1840-1913) (ou apenas David Martins, como era mais conhecido) passou toda sua infância e parte da adolescência na estância São João tornando-se, aos 17 anos, ajudante de ordens de seu tio David “Canabarro” na Guerra do Paraguai (1864-1870), tendo sido considerado um herói junto ao tio.
Em 1893, aos 53 anos de idade, David Martins participa da revolução Federalista, durante a qual ascende ao posto de general. Lutando do lado dos Federalistas (que receberam a alcunha de “maragatos”, e com ainda mais ênfase na revolução de 1923, mas essa é outra história), era subordinado ao líder militar general João Nunes da Silva Tavares, popularmente conhecido na história como “Joca Tavares”, o líder militar da revolta, enquanto o líder político era Gaspar da Silveira Martins (não havendo vínculo entre este “Martins” de Gaspar e o “Martins” de David). Nesse contexto, o general David Martins comandava a coluna militar da fronteira oeste Quaraí-Livramento, tendo improvisado um hospital de campanha na cidade de Quaraí, em um casarão de sua propriedade construído em 1882 que após o fim da revolução passou a ser sua morada derradeira. Essa casa foi construída 2 anos após a conclusão de uma casa nova para a sede de sua estância São João (Velho).
Inauguração da casa nova (edificação central) da sede da Estância São João (Velho).
General David José Martins
A revolução durou de 1893 à 1895, também conhecida como “Revolução da Degola” devido ao modo de execução de prisioneiros mais adotado naquele período (para não gastar munição: “não gastar pólvora em chimango”). Em Bagé, por exemplo, na lagoa hoje conhecida como “Lagoa da Música” (situada atualmente no município de Hulha Negra), diz-se que foram degolados 300 homens do exército republicano (“chimangos”), todos estes prisioneiros de guerra colocados sob responsabilidade de David Martins, e por ordem dele sendo executados dessa maneira, pela faca de Adão Latorre, tenente-coronel maragato nascido em Rivera (Cerro Chato). Um corte de Orelha a orelha que deixava o sujeito agonizando ao chão. Testemunhas oculares narraram que a maioria dos 300 homens já estavam mortos em batalha, e degolados foram apenas 30 ou 40 homens restantes que utilizavam da mesma prática quando capturavam adversários maragatos. Os cadáveres foram jogados dentro da lagoa, e contam as lendas da região que a lagoa leva esse nome “Lagoa da Música” pelo fato do último a ser degolado ser o Clarim (trompetista) do seu batalhão, então a cada aniversário de morte da matança (ou noites de lua cheia) dizem ouvir o som do Clarim saindo de dentro da lagoa, anunciando o desejo eterno de vingança dos mortos.
O temperamento do general David Martins era forte e a personalidade intensa, homem pragmático, conservador, de semblante firme e muito íntimo da guerra e das batalhas. Alguns relatos contam sobre uma situação em Bagé, quando os federalistas (maragatos) andavam “caçando” republicanos chimangos que se escondiam nas edificações e ruínas no centro da cidade. David Martins friamente deu sua ideia: Tocar fogo naquele conjunto de casas e cortiços, a fim de que os que não quisessem morrer queimados, fossem capturados em fuga. Nesse momento, ele teria sido repreendido por Joca Tavares, homem mais paciencioso. Apesar da desaprovação do seu superior, há boatos de que David Martins tenha se separado do grupo com alguns dos seus soldados mais fiéis e apanhado muitos chimangos de maneira incendiária.
David Martins casou-se 10 anos após o falecimento de seu pai, com Josephina Pereira Martins em 1863 (30 anos antes do início da revolução). Após a Guerra do Paraguai retornou à Sant’Anna do Livramento sendo designado, no dia 18 de maio de 1878, ao posto de Tenente Coronel, Comandante do Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional da Província do Rio Grande do Sul, quando recebeu sua espada de mando diretamente das mãos do imperador Dom Pedro II.
Em 1880, como já citado, concluiu a construção de uma nova sede na estância “São João” ou “São João Velho”, como conhecida hoje, recebida de herança do seu pai, Silvério. Josephina, sua esposa, faleceu ao nascer seu sexto filho, Olivério Pereira Martins, em 1883 (10 anos antes do início da Revolução Federalista). O general então casou-se pela segunda vez com Maria Amélia Ribeiro, divorciando-se algum tempo depois, não deixando filhos dessa união. Mais tarde, quando foi derrotado em 1894 na localidade do Sarandi pelas tropas de Hipólito Ribeiro, retirou-se para o Uruguai, constituindo seu terceiro matrimônio, desta vez com Hipólita Sanguinetti Rodriguez, na cidade de Artigas.
A data do seu falecimento foi no dia 25 de janeiro de 1913, em Quaraí, onde tinha residência desde 1882, hipoteticamente, em função de seu genro, Domingos Gomes Baptista, casado com a filha mais velha do general David, Avelina Baptista Martins, genro este que era neto e herdeiro do sesmeiro proprietário do território no qual se fundou a cidade de Quaraí, Tenente João Baptista de Castilhos.
Do primeiro casamento com Josephina Pereira Martins, David deixou os seguintes
filhos:
1. Avelina Martins Batista
2. Daly Pereira Martins
3. João Pereira Martins
4. Delmira Martins Salgado
5. Pio Pereira Martins
6. Olivério Pereira Martins
David José Martins e sua 1ª esposa, Josephina Pereira Martins
Retrato do General David José Martins, Troféu "Liberdade" entregue à sua neta Elida Idalina Gomes Martins, em homenagem aos feitos abolicionistas do general DJM. Espada de mando (dourada) recebida das mãos do imperador D. Pedro II, espada de combate, rebenque e copo de guampa pertencentes ao general DJM.
Durante e após a derrota na revolução (1894), as propriedades no Sarandi foram invadidas e saqueadas. Ao que tudo indica, os filhos nesse momento estavam distantes do local, em lugares seguros onde permaneceram durante o período mais crítico das batalhas. Ao retornarem, o pai já estava morando no Uruguai, deixando para seus filhos do primeiro casamento as propriedades no Brasil (pois neste país deram-no por morto após a revolução). O que se sabe é que Delmira passou a administrar a estância São João, na qual o seu irmão Pio era o capataz (este mesmo irmão, posteriormente, construiu a sede da hoje conhecida São João Novo). Olivério, o mais novo, acabou sendo acolhido por Avelina, e tempos depois vindo a casar-se com a filha mais nova desta irmã (portanto, sobrinha de Olivério) chamada Josephina Baptista Martins, apenas dois anos mais nova do que Olivério. Daí em diante a família foi se reinventando, constituindo casamento também entre primos-irmãos da descendência uruguaia de David Martins, como é o caso dos matrimônios entre David Fontoura Martins e Dacila Fontoura Martins, bem como de Jarbas Pinheiro Martins e Suely Fontoura Martins.
Do terceiro casamento, com Hipólita Sanguinetti Rodriguez, o general deixou os
filhos:
1. Elpídia Martins Dutra – casada com Pulsério Alves Dutra
2. Diogo Sanguineti Martins – casado com Marieta Magalhães
3. Emília Martins da Fontoura – Casada com Fredolino da Fontoura
4. Otília Martins Cunha – casada com Décio Correa da Cunha
5. Norberto Sanguineti Martins – casado com Avelina Castro
6. Tiago Sanguineti Martins